Quando iniciei minhas atividades no blog, prestei
uma homenagem ao seriado Patrulha Estelar (Uchü Senkan Yamato) do qual sou um
grande admirador, e como prometido começo agora a contar sua saga.
Mas ao contrario de muitos que repetem apenas o
roteiro das estórias da saga, vou antes de tudo contar o porquê deste desenho
animado ser tão cultuado até os dias de hoje, e é ainda uma grande referência
para muitas outra coisas que vieram depois dele.
A primeira reação de quem vê uma figura do Yamato
(ou Argo na versão norte-americana) geralmente é a mesma, ou seja, indagar o
que um navio está fazendo no espaço.
Pois bem, em abril de 1945, o encouraçado Yamato, o
orgulho da esquadra nipônica partiu para aquela que seria sua última batalha
(ao menos no mundo real), sendo afundado pelas forças aeronavais
norte-americanas, e daí que se dá o ponto de partida de tudo.
O Yamato em ação na Segunda Guerra Mundial |
Chagamos então ao ano de 1974, com um Japão já
despontando como potência mundial, e tendo seu antigo inimigo de trinta anos
antes como seu maior aliado. Naquela época o maior sucesso nas tevês japonesas
eram os seriados estilo Ultraman ou anime Astroboy. E em meio a este cenário é
que um produtor chamado Yoshinobu Nishizaki teve a ideia que iria mudar toda a
história da animação mundial.
Yoshinobu Nishizaki, e sua grande ideia. |
Com um esboço de roteiro e algumas ideias soltas,
Nishizaki procurou o desenhista e roteirista Leiji Matsumoto, mostrando-lhe o
projeto, e ainda naquele ano nascia a primeira das três séries de tevê, que
mostrava a Terra no ano de 2199, sendo atacada por uma raça alienígena
desconhecida chamada Gamilons. Recebendo uma mensagem misteriosa vinda do
espaço, os terráqueos descobrem que havia uma maneira de limpar o planeta da
radiação, mas como fariam para viajar tão longe e em tão pouco tempo, se não
tinham naves capazes de tal empreitada?
E foi a partir da carcaça do antigo Yamato que tal
nave é construída.
Yamato (Argo) em ação |
Mas o que Yamato tinha (e tem) de tão diferente?
Para começar, a animação possuía uma abordagem
totalmente diferente do que se tinha visto em seriados ou filmes do gênero até
então. Primeiro na forma como a estória era contada, através de capítulos, tal
e qual uma pequena novela, servindo de referência para praticamente todas as
outras animações japonesas que vieram depois. E também pela abordagem que se
tinha de seus personagens, muitas vezes focando capítulos inteiros somente nos
dramas pessoais dos mesmos. Tudo bem, que determinadas situações apresentadas
podem parecer extremamente fantasiosas para nossos céticos dias de hoje, mas
não se pode negar que para época, o que estava sendo feito era um rompimento
total com a crença de que desenhos animados seriam meramente um entretenimento
infantil.
Algo que já tinha sido feito timidamente pelos
estúdios Hanna-Barbera em 1964 com o desenho Johnny Quest, que só durou duas
temporadas, por que o público estadunidense não conseguiu se desvencilhar de
conceitos extremamente arraigados, não dando o retorno que o estúdio esperava.
Só que Yamato foi bem além, pois seus personagens
passavam sempre longe dos estereótipos que todos se acostumaram a ver. Sendo
seres incrivelmente reais em seus temperamentos e atitudes, sendo que neste
caso, em minha opinião, o grande destaque vai para o antagonista dos heróis, o
líder dos Gamilons, Deslock. O alienígena mais humano que já se viu. Com uma
personalidade que era capaz de cometer os atos mais insanos de destruição, e ao
mesmo tempo, viver de acordo com um código de honra, que o fazia inclusive
admirar a coragem e altruísmo da tripulação do Yamato.
O Yamato e seus personagens principais. |
E este é um ponto interessante, pois muito se
especula que os Gamilons teriam sido pensados a partir dos norte-americanos,
algo que vai sendo reforçado ao longo dos desdobramentos da saga.
Já que a intenção de Deslock ao bombardear a Terra era
a de exterminar os humanos, para que pudesse se mudar com seu povo, já que seu
planeta de origem estava à beira da extinção. Longe do arquétipo do “vilão
espacial” que se tinha até então.
Deslock, o alienígena mais humano de todos os tempos. |
Além disto,
Patrulha Estelar contava com uma das mais esmeradas trilhas sonoras que eu já
tive o prazer de escutar até hoje. Uma obra prima de erudição criada pelo
maestro Hiroshi Miyagawa, que ambientava perfeitamente cada momento da
aventura, e que com seus desdobramentos acabou se tornando até uma sinfonia
inteira. E com um tema de abertura interpretado por Isao Sasaki que ficou indelevelmente gravado na memória
de todos.
Mas não pensem
que a vida da animação foi assim tão fácil. Pois como no exemplo de Johnny
Quest as coisas demoraram um pouco para engrenar, tanto que após a segunda
série de tevê, a mesma acabou sendo resumida num longa-metragem no qual todos os
personagens morriam. E foi aí quando tudo parecia dar errado, que se começou a
se ter a real dimensão do que realmente
acontecia.
Mas isto, contarei
apenas em outro capítulo. Até lá!
por José Carlos Sandor.
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